A propósito das comemorações do ano do Brasil em Portugal, o Teatro Nacional São João tem um ciclo delicioso de peças de teatro do Nelson Rodrigues. Sendo um nome desconhecido pelo senso comum - o que é absolutamente normal -, Nelson foi um grande cronista e jornalista brasileiro, mas principalmente dramaturgo. Tem imensas peças teatrais que causaram polémica aquando da encenação - isto nos anos 40 do século XX - e é um dos meus autores de teatro preferidos. É o Nelson: e isto quer dizer quotidiano, tragédias cariocas, faits divers, dia a dia, pessoas simples, linguagem simples (mas não simplista). Os textos são fortíssimos; o que aparentemente é uma coisinha light para entreter, transforma-se em algo maior, que atemoriza e deixa a pensar. Das quatro peças em cena, infelizmente só consegui ir ver Toda Nudez Será Castigada (já estiveram em cena Valsa nº 6, Otto Lara Resende ou Bonitinha Mas Ordinária e ainda A Mulher Sem Pecado). Gostei muito - principalmente porque já não ia ao teatro há muito tempo (espaço físico, claro, que ainda o mês passado o meu amigo Tiago estreou-se como encenador/autor e lá estivemos todos a apoiá-lo) e é sempre bom voltar ao São João, um espaço tão bonito e tão cheio.
No geral, a peça foi boa; no entanto, estava com uma tendência de fazer do teatro do Nelson popular, de fazer das personagens caricaturas, como bem comentou o Paulo, ou de fazer rir em cenas e circunstâncias que pouco têm de cómico - e estas características não são rodrigueanas. A cenografia é brutal, os atores são muito bons. Há coisas que podiam ter sido evitadas, outras que estiveram excelentes. Foi uma noite bem passada e em boa companhia.
E o texto do Nelson - que eu não conhecia; só conhecia o enredo da peça - é fabuloso. Mais informações aqui.
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