Não gosto de deitar coisas fora. Tenho milhares de coisas armazenadas em caixas, cadernos cheios que guardo em gavetas e que me ocupam espaço, coisas pequeninas que trouxe de viagens, pacotes de açúcar e post it pregados no quadro de cortiça. Tenho uma dificuldade imensa com mudanças, um medo terrível de arranjar de novo as coisas, de as mover e as fazer caber em sítios que a minha vontade não fez para elas, em voltar a acomodá-las. Nos últimos meses tenho acomodado muita coisa ao mesmo tempo que surgiram notícias de coisas que vão mudar. Não é demais, eu sei que aguento. Dentro de tudo isto está "a certeza do nunca mais" que se define por eu pensar nele, olhar para as fotografias dele, para aquela bolinha verde no topo do chat, sempre em primeiro lugar, porque eu não tive coragem de eliminar nem restringir nem nada que o valha, remexer no telemóvel sem carregar no nome para ler mensagens, e saber que é uma pessoa do nunca mais: que nunca mais vou voltar a ver mesmo que vivamos na mesma área, que nunca mais me vai procurar e que eu nunca mais vou procurar. Volta e meia ainda me passam pela cabeça duas ou três esperanças teimosas que eu aniquilo instantaneamente ao dizer em voz alta "esquece isso. nunca mais". E assim o nunca mais instalou-se em mim e faz-me bloquear a vontade de me lembrar das coisas boas. É terrível ter uma história intacta, que, por ela só, não se quebrou, que só traz à memória momentos felizes...que nunca mais.
Talvez daqui a uns meses, quando já nada me doer e esta cicatriz estiver disfarçada na pele, eu mude a forma de pensar e o nunca mais se transforme noutra coisa qualquer. Agora - e porque não gosto de deitar as coisas fora - vou só continuar as minhas mudanças, arrumações e a deslocação desta história intacta e sem rachadelas para o spam e esperar que não haja nenhum clique inesperado para me fazer abri-la.