Sempre disse que julho, setembro e a passagem de ano eram, para mim, alturas de balanços e mudanças. Eu bem que andava com a sensação que este aniversário me ia trazer alguma coisa, que ia provocar uma mudança e não estava errada. Não foram precisas muitas horas depois da meia noite para confirmar o que eu já suspeitava, o que já me tinha entrado na cabeça, o que eu andava há meses a meter na cabeça porque, mais cedo ou mais tarde, se eu tinha seguido em frente, ele ia ter de seguir também. Pensei que o ano passado tinha sido o último ano de lágrimas, mas enganei-me. Estas doeram quando não as consegui controlar, não as queria, mas não as consegui engolir. Mas também sei que, pela primeira vez em anos, são as mais saudáveis, porque marcam um fim definitivo e um recomeço. Mas arde, arde-me o coração. Já não dói porque já não batia da mesma maneira há muito tempo. Mas arde daquela maneira aguda, está em ferida. Mas desta vez eu sei que é pele que vai voltar a nascer e não vai romper mais. São só e serão sempre daqui em diante memórias. Só não me peçam que veja, que assista, que fique feliz, porque não fico.Não me peçam para estar por perto porque não quero, não consigo, ia doer ver o meu fracasso diante de mim todos os dias. Acho que tenho o direito de não querer isso para mim. Fico contente por ele, por ver que superou, que finalmente também superou. Eu já tinha 99% de superação, só tinha a dúvida de 1% que agora já não existe. Foi como se me desligasse um interruptor, como se já não ligasse - na verdade já há dias que eu não sentia nada, nem quando pensava e me perguntava "mas como é que foi tudo embora?". mas materializar a coisa é diferente. Torna-se real, como está agora. Se antes era como se fosse um velório sem corpo, sem nada, agora tem tudo. É um luto breve - porque já tem sido de anos - e é uma libertação. Finalmente, de tudo. As coisas más conseguem tornar-se boas e ainda bem. Apesar das lágrimas, da última dor aguda, de um coração que precisou de ajuda pra continuar a bater de noite, já está tudo sereno. E agora vamos a uma nova vida que eu não tenho feitio nem tempo para moer mais isto. Ao verão, a mim e aos momentos felizes (aos do passado e aos que virão). E uns 23 de deixar qualquer um de boca aberta.
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