Eu sei que já postei imenso hoje, que não é hábito. Até para mim é estranho porque quero escrever, preciso de. Não consigo adormecer, estou eléctrica, estou a oscilar demasiado, até para mim. E também me apetece escrever, começo e tenho vontade de parar. Acho que me partiram em peças e voltaram a pôr tudo para parecer direitinho, mas nenhuma ficou no sítio. As músicas na minha cabeça vão da Alicia Keys à Ivete Sangalo, do Michael Bublé ao Glee. A vontade de ler poesia confunde-se com a vontade de ler as crónicas de Vinicius e de descobrir as de Nélson. Apetece-me pegar no carro e ir sem destino, apetece-me ficar na cama enrolada a olhar pro escuro. Quero dormir a manhã toda, ficar acordada a noite toda para ir para as aulas. Quero faltar às aulas, quero fazer os trabalhos, não quero ler nada para os trabalhos. Quero ir para o Algarve, quero ir (de vez) para o Brasil, quero praia, quero botas, não quero calor, quero calor, quero vestir-me como um urso polar cheia de roupa e cachecóis. Quero sapatos de salto alto por vaidade e gosto, sapatilhas pelo conforto e pelo comodismo. Quero o rádio do carro nas alturas, quero-o a tocar baixinho, a embalar a noite.
Quero as facas de Melo Neto, a confusão de Pessoa, o meu estimado Álvaro de Campos, a singularidade do meu tão amado Pessanha, a crítica acutilante e os enredos do Eça. Quero o rigor de Camões e o olhar desenganado, quero o tempo do Barroco, não quero o tempo. Apetece-me rir para acabar a chorar quando sentir o olhar modificar-se, as linhas do rosto menos contraídas, aquela dorzinha aguda que antecede o resvalar da lágrima. Quero aquela dor que arde e que pesa e que me acompanha o dia todo; quero o tempo ocupado para não pensar, quero arrancar histórias, viver novas histórias, voltar para velhas histórias. Rever amigos, cortar laços com (des)amigos, quero o jantar em casa do Pedro, não quero o jantar em casa do Pedro. Decididamente, não quero o jantar em casa do Pedro. Ou se calhar quero. Quero o Douro e as águas paradas, o S. João; não quero o S. João porque odeio alho-porro. Quero vestidos e sandálias. Quero sair de calças de ganga e não levar carteira. Quero ter bolsos suficientes para guardar a tralha toda que anda sempre comigo. Quero usar este anel até ao último dia da minha vida. Quero atirar este anel para o chão.
Estou tão paradoxal. Demasiado, até para mim. Parece que já não encaixo dentro de mim, que me saem letras dos dedos sem pensar. Quero frio, cobertores. Quero passear na Baixa, quero ir à praia sozinha quando não estiver ninguém. Quero ver o mar. Não sinto o mar da mesma maneira no Verão. Toda a gente o invade e traz ruído ao meu silêncio. Gosto da praia quando está vazia. Gosto da praia quando está cheia. Quero beber vinho. Não quero álcool. Enjoei álcool. Apetece-me encher o quarto de flores, de todas as flores. Quero chá. Está um calor de morte e só me apetece chá. Quero água tónica gelada. Quero esplanada. Quero um lounge. Quero um bar de praia.
A única coisa que não me apetece é pensar. E é a única que teima em acontecer.
1 comentário:
LOL o que tu tens é falta de vida senao ja tavas a dormir PERCEBES? podias ter continuado a escrever o que querias e o que nao querias... podias continuar o teu momento sente que sente sente que nao sente, porque o miranda hj deu-nos para tras xD
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