domingo, 30 de maio de 2010

Pedido (quase) desesperado aos homens deste país

Eh pá, expressões como "olá, lindona" não são abordagens giras. Fazerem sempre as mesmas perguntas e responderem com as mesmas palavras só nos fazem pensar "ai que grande chato/besta/cromo/idiota/estúpido". A título exemplificativo:
-E então, tens namorado?
-Não.
-Ai não acredito...uma mulher tão bonita sem namorado./ O que se passa com os homens? Estão cegos?
Por favor, variem. Não perguntem "Então, que gostas de fazer nos tempos livres?". Nós não vamos dar respostas muito diferentes porque as pessoas fazem quase todas as mesmas coisas. A não ser que estejam a falar com alguém que pratique jardinagem, que se dedique à pesca ou faça crochet.
Mas pronto, isto ainda se engole,ainda que um bocado a custo. Mas o que me deixa doente são mesmo os "Olá, gata", "Olá, lindona", "Então, jóia?" ou "Oi, fofa". NÃO. MIL VEZES NÃO, principalmente se não nos conhecerem de lado nenhum.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sextas à noite, neste blog, são noites de poesia #3

Os acrobatas


Subamos!Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse física dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesuradosN
a calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de
Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.
E morreremos
Morreremos alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO.

Vinicius de Moraes (in Poemas, sonetos e baladas)
E quando ficamos super felizes por alguém, mas simultaneamente tristes de morte porque não vamos poder partilhar esse momento?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A lista

O M. diz que temos de fazer uma lista para o Verão de 2010 com 10 coisas que amigos (ou outros) concretizem. Confesso que ao mesmo tempo que gosto de listas também tenho pânico delas, por ver itens que não são riscados. Contudo, contrariando este espírito pessimista, aqui estão os 10 tópicos que constam da minha lista:

1- Passar um fim-de-semana qualquer num sítio calmo e isolado.
2-Sair da praia quando o sol se puser.
3-Sair o máximo de noites possível em boa companhia.
4-Começar o dia com um sorriso motivado por um 'bom dia' especial e deitar-me com o mesmo sorriso.
5-Passar uma noite em ruas que não conheço,numa cidade que não é minha.
6- Ir aquela semaninha para o Algarve e aproveitar ao máximo!
7-Viver um amor de Verão e não o enterrar na areia.
8-Fazer uma jantarada com os amigos.
9- Ir beber uns copos ao fim da tarde, depois da praia, numa esplanada com vista pro mar num dia de calor.
10-Repor os jantares, cafés, lanches, almoços, passeios e etc. em falta.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Eu sei que já postei imenso hoje, que não é hábito. Até para mim é estranho porque quero escrever, preciso de. Não consigo adormecer, estou eléctrica, estou a oscilar demasiado, até para mim. E também me apetece escrever, começo e tenho vontade de parar. Acho que me partiram em peças e voltaram a pôr tudo para parecer direitinho, mas nenhuma ficou no sítio. As músicas na minha cabeça vão da Alicia Keys à Ivete Sangalo, do Michael Bublé ao Glee. A vontade de ler poesia confunde-se com a vontade de ler as crónicas de Vinicius e de descobrir as de Nélson. Apetece-me pegar no carro e ir sem destino, apetece-me ficar na cama enrolada a olhar pro escuro. Quero dormir a manhã toda, ficar acordada a noite toda para ir para as aulas. Quero faltar às aulas, quero fazer os trabalhos, não quero ler nada para os trabalhos. Quero ir para o Algarve, quero ir (de vez) para o Brasil, quero praia, quero botas, não quero calor, quero calor, quero vestir-me como um urso polar cheia de roupa e cachecóis. Quero sapatos de salto alto por vaidade e gosto, sapatilhas pelo conforto e pelo comodismo. Quero o rádio do carro nas alturas, quero-o a tocar baixinho, a embalar a noite.
Quero as facas de Melo Neto, a confusão de Pessoa, o meu estimado Álvaro de Campos, a singularidade do meu tão amado Pessanha, a crítica acutilante e os enredos do Eça. Quero o rigor de Camões e o olhar desenganado, quero o tempo do Barroco, não quero o tempo. Apetece-me rir para acabar a chorar quando sentir o olhar modificar-se, as linhas do rosto menos contraídas, aquela dorzinha aguda que antecede o resvalar da lágrima. Quero aquela dor que arde e que pesa e que me acompanha o dia todo; quero o tempo ocupado para não pensar, quero arrancar histórias, viver novas histórias, voltar para velhas histórias. Rever amigos, cortar laços com (des)amigos, quero o jantar em casa do Pedro, não quero o jantar em casa do Pedro. Decididamente, não quero o jantar em casa do Pedro. Ou se calhar quero. Quero o Douro e as águas paradas, o S. João; não quero o S. João porque odeio alho-porro. Quero vestidos e sandálias. Quero sair de calças de ganga e não levar carteira. Quero ter bolsos suficientes para guardar a tralha toda que anda sempre comigo. Quero usar este anel até ao último dia da minha vida. Quero atirar este anel para o chão.
Estou tão paradoxal. Demasiado, até para mim. Parece que já não encaixo dentro de mim, que me saem letras dos dedos sem pensar. Quero frio, cobertores. Quero passear na Baixa, quero ir à praia sozinha quando não estiver ninguém. Quero ver o mar. Não sinto o mar da mesma maneira no Verão. Toda a gente o invade e traz ruído ao meu silêncio. Gosto da praia quando está vazia. Gosto da praia quando está cheia. Quero beber vinho. Não quero álcool. Enjoei álcool. Apetece-me encher o quarto de flores, de todas as flores. Quero chá. Está um calor de morte e só me apetece chá. Quero água tónica gelada. Quero esplanada. Quero um lounge. Quero um bar de praia.
A única coisa que não me apetece é pensar. E é a única que teima em acontecer.
De facto, a única coisa que me apetece mesmo é ir embora daqui.
Cortar ou pausar laços, não deixar endereço, desligar o telemóvel, esquecer-me de blog, msn ou facebook. Sumir para ninguém me encontrar, perder-me no mundo sem ninguém a ver, a pôr a mão, a torcer para que tudo corra mal.
Há dias em que me apetece ser só mais uma, uma estranha que ninguém conhece, ninguém vê, a quem ninguém liga.
[Depois de um dia tão alegre não entendo esta súbita vontade de evasão.]

domingo, 23 de maio de 2010

Summer Nights



Gosto, quero mais. Gosto das conversas em sítios agradáveis, com pessoas ainda mais agradáveis. Bebidas de cores, amores a preto e branco. Ruas cheias de gente a ao mesmo tempo despidas.
É ocupar as horas para não pensar.

sábado, 22 de maio de 2010

Finally!

Dormi até ao fim da tarde que nem uma princesa. Os meus horários estão completamente trocados e claro que a meio do dia fico cheia de sono. Depois de uma maratona de testes, incluindo um HOJE de MANHÃ (ninguém merece...), eis que pude finalmente descansar.
A grande novidade da semana está quase quase a tornar-se realidade e sem dúvida que será algo inesquecível (yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii) - é a ver a animação do P. a actualizar o estado das coisas. Adoro!!!!
Ultimamente ando cheia de vontade de pegar no bikiki, num livro, no protector solar, na toalha e de me enfiar na praia o dia todo a apanhar sol, a beber caipirinhas ou sumos naturais bem ao estilo do dolce fare niente. E logo agora que tenho um bikini giríssimo, não pequenino às bolinhas amarelas, mas às bolinhas brancas que necessita urgentemente de ser estreado.
Apetecem-me noites quentes de verão pelas ruas do Porto, não vestir o casaco, beber um cocktail e conversar horas e horas na Casal; sair de uma discoteca de manhã, ir para o Algarve e comer bolas de Berlim. Apetecem-me tops, sandálias, vestidos, mini-saias, padrões coloridos, florais. Apetecem-me as reflexões do Ferdinand, o geocaching, o sentido de humor do Super M., as conversas sobre relações com a Miss Bright Side; apetece-me dizer parvoíces o dia todo, rir o dia todo, almoçar com as outras 3, dizer estupidezes com a Mé, ter o momento diário de idiotice com a Carol.
Apetece-me perder-me em ruas que já conheço, que pisei, mas às quais não prestei atenção, apetecem-me outras cidades igualmente encantadoras, outros países, outra região.
Apetece-me um tempo e um jogo novos, porque este...já acabou.

Sextas à noite, neste blog, são noites de poesia #2

OS SILÊNCIOS

Não entendo os silêncios
que tu fazes
nem aquilo que espreitas
só comigo

Se escondes a imagem
e a palavra
e adivinhas aquilo que não
digo

Se te calas
eu oiço e eu invento
Se tu foges
eu sei, não te persigo

Estendo-te as mãos
dou-te a minha alma
e continuo a querer
ficar contigo

PERGUNTA

Tão pouco te pergunto
meu amor:

Como responde o corpo
ao vazio dos lábios?


Maria Teresa Horta in Só de Amor

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O senhor da Zon ou a vida a levar-me por caminhos "sui generis"

O senhor da Zon foi a casa da avó hoje. O senhor da Zon brincou com a Minnie, dizia-me "a menina isto, a menina aquilo". O Senhor da Zon, em 20 minutos, disse-nos, a mim e à avó, que esteve um ano no Brasil e que levou um tiro (Ao que ela diz horas mais tarde "deve ter sido na cabeça que ele era meio avariado"), que tem um irmão especializado em latim e grego, cujo curso foi tirado na Faculdade de Letras de Coimbra. Por esse motivo, o senhor da Zon disse-me que conheceu muito bem a vida académica em Coimbra. Ontem, na Faculdade, falava-se da Queima...de Coimbra e da abolição do colete no traje feminino e da posterior reivindicação das mulheres por lhes terem tirado o colete; e do traje com sabrinas e all star e do facto de os estudantes trajarem de propósito pra ir pra Queima (WTF?!?!?!). Voltando ao senhor da Zon, fiquei também a saber que tem um gato do tamanho da Minnie, que ouviu a música da Lady Gaga a dar no VH1 e que começou a cantar. Desculpem,mas nunca tive um senhor da Zon que instala a net a cantar Papparazzi.

Horas mais tarde...

Mãe chega a casa da avó. Avó imita senhor da Zon. Voluptia imita avó. Avó, em género de pay back, imita-me. Anda tudo numa onda de imitações nesta casa!

Voltando ao item a minha vida é um lixo...

Ontem adormeci, hoje adormeci de tarde e não estudei. Há teste amanhã. hey, hey. hey.
Contudo, antes de adormecer (ontem!), passeava eu pelo Sigarra a ver os mestrados e planos de estudos quando, de repente, CADÊ O MESTRADO EM LITERATURA BRASILEIRA? POR QUE RAIO HÁ SÓ EM LITERATURA PORTUGUESA? CADÊ O MESTRADO EM ESTUDOS FEMINISTAS?
Não há, o mestrado que eu quero esfumou-se. E agora adivinhem onde há o mestrado que eu quero (Oh sorte...) e onde também está a minha segunda hipótese de mestrado. Um doce (de maracujá ensinado pela Nigella...nhamyy) a quem descobrir.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A moda das relações instantâneas

É certo que cada um faz o que quer com a sua vidinha, com os relacionamentos que tem, com as decisões que toma. Mas nisto das relações há uma coisa que não me entra na cabeça: relações instantâneas. "Ai conhecemo-nos há dois dias e temos uma relação, ai que é tudo tão intenso"...errr...pois, desculpem-me mas esses esquemas não me convencem nem uma bocadinho. E também não me convencem exibicionismos baratos, como se estivessem a esfregar na cara das pessoas o "Olha pra nós!! Temos uma relação, não é meu cajuzinho, minha coisinha-mai-boa, meu ursinho de pelúcia, minha bolachinha Maria de chocolate?". Também não acho piada absolutamente nenhuma a exageros: ok, as pessoas estão "apaixonadas" e riem-se que nem hienas histéricas; quase as estou a ver a elogiar a pessoa amada, a exaltar qualidades "porque ele/a é que é! Temos a relação perfeita e ele/a chama-me Bela Adormecida/Prince Charming e "morzinho" (vómito) e andamos sempre na rua de mãos dadas, não nos largamos nem pra ir à casa-de-banho" (e penso eu "Pois, e empatam o trânsito, que uma pessoa quer passar e tem de levar com vocês ali a fazer barreira, a andar devagar e a comentar a beleza do dia de chuva que vos está a molhar todos, mas "ai que o amor é lindo e vamos levar com água na tromba e chegar ao destino encharcados porque namorar à chuva é romântico").
Estas relações, pra mim, são como os bolos instantâneos: comem-se, mas não sabem ao mesmo.

Obrigada, S. Pedro,

pelo solzinho que mandaste. Hoje já deu pra um sapatinho de cunha mais fresquinho (e alto!!), pra uma t-shirtzinha, pra uns óculos de sol, para conversas ao ar livre.
Fico sempre bem disposta em dias de sol. Adormeci de cansaço no sofá do *Paraíso* embalada por versos de Sophia, Cesariny, Carlos de Oliveira e Eugénio de Andrade. Vi fotos, imensas fotos, e recordei momentos maravilhosos. Nem dei pelo tempo passar e já são quase 20h. Não tarda vou comer a saladinha de atum (em água, que é mais saudável), ler um bocadinho, rir-me com os amigos, deitar-me, soltar as amarras do senhor coração e deixá-lo livre enquanto durmo, para ele pensar e sentir o que quiser; se quiser parar de fazer pressão e de me deixar um peso no peito eu agradeço. Amanhã é um novo dia de sol e eu com toda a certeza estarei tão bem disposta quanto hoje!

Yupiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!



Olá, eu sou a Voluptia e tinha o vício de roer as unhas. (Agora digam: Olá, Voluptia e quase parece que estamos num grupo de ajuda a viciados) Consegui superá-lo a muito custo e força de vontade; esqueçam lá os vernizes amargos e o piri-piri que não é isso que faz com que se deixe. Agora gosto muito de comprar vernizes e de ir à minha querida F. arranjar estas meninas que, espantem-se, depois de anos a serem estragadas, e ao contrário do que muita gente diz, crescem sempre fortes, saudáveis e raramente partem. Contudo, quando partem...partem, ou seja, é sempre a meio, o que me obriga a pô-las todas do mesmo tamanho. Assim sendo, esperei 3 longas semanas e mais alguns dias para que estivessem finalmente prontas a pintar. Até a G. notou que algo me faltava mal apareci na faculdade com as mãos deslavadas e tristíssima. Agora estão vermelhas, giríssimas e eu gosto.

domingo, 16 de maio de 2010

Noites sem sono

O Papa veio ao Porto e, por esse motivo, o meu fim-de-semana começou na terça-feira à noite. Até aí tudo bem. Quarta-feira: dormir (que bem estava a precisar), adiantar trabalho (o costume), Casal (obrigada A., J., Ferdinand e Miss bright side por terem comido aquele bolo de chocolate divinal à minha frente), Piolho e Altar. Até aí tudo óptimo.
Quinta-feira...mais tosse que a habitual. Estranho, mas pronto.
Sexta-feira: Voluptia morreu pro mundo. Sim, estou fechada em casa desde quinta-feira à noite, a tosse não pára (então de noite é o fim do mundo...), tonturas não me faltam, falta de apetite também tenho. Para ajudar disse-me a minha avozinha que estava "pálida, mesmo com ar de doente. Já viste como estão os teus olhos? Deixa cá ver se tens febre. Ah, que estranho! Não tens! Vai ver como tens os olhos!". Não, não tinha febre. Antes tivesse que era sinal que não andava movida a Nimed e chá e isto passava depressa.
O sono foi-se, mas pelo menos há uma tranquilidade em mim que já há muito tempo não sentia. Só me apetece ouvir Alicia Keys, ver Anatomia de Grey e dormir. Era bom, não era? Mas...não! Já li 10, sim 10, revistas Vértice, mais o Luandino com os amores do outro, e ainda o cancioneiro de Vinicius de Moraes e Tom Jobim e adorei ouvir de novo as músicas do Orfeu da Conceição. Ainda planifiquei um trabalho que, como já é hábito, vai dar ao sexo. Desta vez é mais à falta dele, já que se trata da virgindade do cavaleiro na Demanda do Santo Graal e no físico da obra O Físico Prodigioso, de Jorge de Sena. Até o trabalho da S. sobre os monstros na Eneida me parece melhor que fazer isto, mas lá terá de ser. Estava a desesperar por falta de ideias pra isto; menos um problema por resolver...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sextas à noite, neste blog, são noites de poesia #1

Flashback

Podia ser aí. Contigo. Com o teu corpo
ainda nu, ou vestido da luz que entra pelas
persianas velhas, trazendo a tremura
das folhas da trepadeira do quintal.

Podia ser de manhã, ou de madrugada,
sabendo que teria de te abraçar para que não
desses pelo frio, com o quarto ainda
húmido da noite, num fim de outono.

Podia não ter sido nunca, se não fossem
assim as coisas: a tua mão ao encontro da
minha, no tampo da mesa, como se fosse
aí que tudo se jogasse, entre duas mãos.



Ausência

Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
magoa, que se limita à alma: mas que não deixa,
por isso, de deixar alguns sinais - um peso
nos olhos, no lugar da tua imagem, e
um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
tivessem roubado o tacto. São estas as formas
do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
as coisas simples também podem ser
complicadas, quando nos damos conta da
diferença entre o sonho e a realidade. Porém,
é o sonho que me traz a tua memória; e a
realidade aproxima-me de ti, agora que
os dias correm mais depressa, e as palavras
ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de
mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência dói.

Nuno Júdice (in Pedro lembrando Inês)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Leituras

Agora que findou a Semana da Queima, que festa, amigos e riso foram as palavras de ordem, agora que o negro acalmou, é altura de me (re)concentrar na Faculdade. Pois, e para quem lê este cantinho, já sabe que inevitavelmente vamos parar aos livros. E então, para esta semana, para além das peças de teatro de Plínio Marcos e Hilda Hilst, temos a Demanda do Santo Graal, o famoso romance arturiano, temos ainda João Vêncio: os seus amores, de Luandino Vieira e ainda, a título de deleite pessoal, Os Clandestinos, de Fernando Namora, ao qual pertence a passagem seguinte (p.17):





"...«Beija-me, querido», e enquanto o beijava e era beijada, enquanto lhe estorvava os resmungos e as perguntas com a boca ávida, que era uma espécie de mordaça aplicada sobre a sua, ia-se despindo, pondo em cada gesto a urgência e o frenesi de uma devastação. «Beija-me, querido, beija-me», já descalça, já nua, mas ainda a ondear pelo quarto, a excitar-se e a excitá-lo, remirando-se ao espelho..."

domingo, 9 de maio de 2010

Temperatura ambiente

Somos bombardeados por palavras todos os dias até chegar aquele em que a arma está apontada à nossa cabeça (coração) e a bala de quem dispara é fria, indiferente, escolhida a dedo para perfurar e causar dano. São traços, combinações de sílabas, palavras, frases...Não me adianta recorrer à Fonologia que não vai dar em nada. Depois de disparadas, deixam-nos anestesiados, em estado de choque. Não se sente rigorosamente nada; a dor da ferida é maior que tudo. Até que, um dia, o gelo que nos isolava do resto do mundo começa a derreter. Reagimos à temperatura ambiente, onde as palavras não magoam num tiro, mas continuamente, com o sangue que não pára de correr.
Hoje sim estou à temperatura ambiente.

sábado, 8 de maio de 2010

Da insensibilidade

Estou insensível. É impressionante que isto aconteça logo comigo. Nada me importa: o que se pensa ou deixa de pensar, o que se faz, o que se quer fazer, o que não se fez. Nem sente que sente, nem sente que não sente. Nada de nada. Preocupante: nem sequer uma lágrima, nem sequer 5 minutos a pensar. Nada. Quase podia parafrasear o Zé Tolo e dizer "Sabes o que é nada desta bidah? É nada desta bidah".
Se calhar é por ser a Semana da Queima e o dia se resumir a dormir-Queima-casa-dormir-sair-autocarro mágico-Queima-casa-dormir, mas a verdade é que não sinto nada.
Talvez eu esteja a cumprir a promessa que fiz em Setembro de 2008 ou se calhar é só cansaço ou experiência de vida que se começa a acumular. Ou se calhar ínevitavelmente não é nada e eu enganei-me durante uns 2 ou 3 meses a pensar que sente que sente....e vai na volta e não sentia era nada.

domingo, 2 de maio de 2010

Monumental

Hoje. Tudo.

sábado, 1 de maio de 2010

Correr contra...o tempo

Esta semana o tempo passou simultaneamente rápida e lentamente. Os dias começaram cedíssimo e acabaram tardíssimo. Sempre numa correria, por entre risos, lágrimas, capas, amigos, coragem para decisões que encerraram a sexta-feira. Ontem o dia foi estranho, como a maioria dos meus dias. Estacionei o carro na faculdade às 7.30h e saí às 21.50h. Lembro-me mais do tempo a partir das 3 da tarde, em que ia sair disparada para ir ter com a T. que chorava ao telefone. Eu não sabia se chorava ou ria, mas acabou por ganhar o primeiro. Quando me vinha embora passaram tantas músicas na rádio e, por mais esforço que faça, não me lembro agora de nenhuma. Lembro-me apenas das luzes dos candeeiros acesas, do conta-quilómetros a marcar os 120, de ouvir a melodia e de ter os pensamentos a rodopiar, o coração descansado. Lembro-me de vir a juntar palavras, a escolhê-las a dedo para transmitir exactamente o que queria. E de acordar hoje e ver que a única resposta que tinha era o silêncio. Lembro-me de serem 4 da manhã, de ter acordado com dores de garganta porque a voz não falhou e de ter respondido à Miss Bright Side, de ter lido o que o T. me disse e de ter desatado a chorar feita Madalena e de pensar que gostaria de ter sempre comigo num papel aquelas palavras, mesmo que já estejam bem guardadas comigo. Lembro-me de voltar a adormecer com os pensamentos a jogar pingue-pongue com duas bolas diferentes e de acabar por adormecer. Lembro-me de acordar 3 horas depois, 4 horas depois, 5 horas depois e de já não conseguir dormir mais apesar de todo o cansaço que me está nos ombros, nas mãos, no cérebro e no coração.