quinta-feira, 10 de junho de 2010

11 de saudade

Correram, assim, na calma do tempo. Não fiz as contas para saber quantos dias são, mas são muitos a sentir a tua falta. Nunca te quis deixar ir, até que inevitavelmente percebi que seria melhor deixar-te descansar e manter-te vivo dentro de mim. As lágrimas de dor por já não te ter aqui há tanto tempo transformam-se num sorriso sereno de lembrança ainda que, de vez em quando, uma dorzinha mais aguda atravesse o coração. Já não me viste chorar pelo primeiro desgosto de amor. Não estavas quando me magoei a sério no joelho. Não estavas quando contei que tinha um namorado, quando chorei dias a fio porque o perdi. Não estavas no primeiro dia em que entrei na faculdade no 1º ano nem no 2º. Não estavas quando um a um todos eles também foram embora, quando chorámos as três entregues a nós próprias e umas às outras, como sempre nos ensinaste. Não estavas quando me desiludi com uma das grande amigas. Não estavas na festa surpresa dos meus quinze anos. Não estavas quando discuti com ele da 1ª nem da 2ª nem da 3ª vez, quando ficámos dois meses sem falar. Não estavas quando cheguei a casa às 4 da manhã da primeira vez que fui a uma discoteca ou quando cheguei às 9h quando sair já se tinha tornado um hábito. Não me viste na primeira vez que trajei nem quando subi ao palco para ir receber aqueles prémios todos dos quais sei que te orgulhas. Engraçado, estiveste sempre lá. Sempre.
Elas dizem e assustam-se com os gestos que faço. Estou a vê-lo agora. Ele fazia esse gesto exactamente assim. É um bocadinho físico de ti que fica em mim.
Os bilhetes nos aniversários religiosamente seguindo o mesmo esquema: um acróstico com o meu nome e as tuas palavras. A colecção infindável de moedas e de porta-chaves. E os isqueiros encontrados na garagem! Foste sempre uma caixinha de surpresas.
Os álbuns de fotografias cheios e rigorosamente ordenados por datas e locais. Os desenhos dos barcos a tinta azul. Não tinhas jeito nenhum para desenhar, mas eu insistia sempre e tu fazias. As férias no Algarve a comer bolas de berlim, as tardes de Inverno a comer Cheetos e batatas fritas. O chocolate branco Galaak e os ursinhos do Tuli-creme. As viagens para o Algarve e a minha implicância com o cheiro a ovos cozidos. Ainda hoje sinto esse cheiro e lembro-me sempre de ti.
Não vais estar cá quando eu me formar, quando eu tiver os meus filhos, quando conseguir o primeiro emprego, quando eu casar, quando eu chegar depois de partir, quando me tornar independente, quando tiver a minha casa. Mas estarás sempre. Sempre. Como estás hoje.
Há tanto de ti em mim, tanto.

1 comentário:

Anónimo disse...

se tens um bocadinho dele, eu ia adorar esta personagem!
ahhhh é impossivel nao se orgulharem de ti!