[Yeah, I'm fine. And that's not a lie.]
Sempre soube. Sempre.
Há dias falávamos de histórias. Uma recusava-se a admitir que tinha uma relação, por mais que já fosse evidente. Casmurra. E sempre a levar com a minha dose de realidade em cima. E também com a minha dose de 'vai lá pra isso, vais-te lixar à grande, mas anda lá que ainda só tens (quase) 20 anos e se te estampares, paciência. E nós estamos aqui pra ti'. Outra dizia que recusava terminantemente apaixonar-se, mas que gostava de acordar de manhã e começar logo a sorrir ou de se ir deitar e saber que ia ter um beijinho de boa noite [dele]. Uma outra dizia que gostava de se apaixonar, porque é bom, porque queria ter uma cena fixe, estabilidade. Tanto queria que acabou a atirar uma flor ao ar a ver se a sorte lhe sorria. Uma delas está e estará feliz. Deve ser a amiga mais feliz nesse campo. Ou uma das. Outra ainda sofria com os problemas com o prince charming, com os obstáculos, com a injustiça e infantilidade dele. E dizia que não ia deitar tudo fora, que já era muito tempo a dois, que não queria saber do que o mundo pensava. Mas que tinha medo de o perder.
Todas nós sabemos quando o perdemos. Eu sempre soube; o momento sabe ao mesmo - a consciência terrível, a percepção drástica da ruptura que se sente na dinâmica do par, uma sensação de abstracção do mundo e uma espiral que vai dos pés à cabeça, de cima pra baixo. Corte feito, bisturi em punho: a partir daí é pôr remendos nas ligações, sempre com o risco elevado de, a qualquer momento, aquilo rebentar. Ou ir rebentando. Primeiro aqui, depois ali. Traduzindo: a chamada que não vem, a mensagem que não chega; o beijinho de bom dia que demora, a secura das palavras. E isto até se ouvir o som contínuo de um motor que já não dá impulso a nada. Mas há as tentativas. As tentativas manhosas de pôr tudo a funcionar, mas já não fica nada como era antes. Lembro-me de dizer a uma delas que se ia voltar para aquilo não se devia esquecer que eles os dois iam carregar o passado deles com eles e que, à menor fragilidade da corda, corriam o risco de cair. Eu disse e esqueci-me disso para mim. É por estas e por outras que sou espectacular a resolver a vida dos outros. Pois. Voltando às tentativas, a hipótese de voltar a dar certo é pouca, mas está lá. Só que implica esforço, dedicação e uma vontade enorme de make it work - um bocadinho hoje, outro amanhã, so on and on and on. E isso é raro de encontrar hoje em dia. É por isso que me lembro sempre do texto do MEC ou então do poema "É urgente o amor", de António Ramos Rosa. É tudo tão confortável, é tudo tão fácil, cómodo, à mão. E quando não é desiste-se ou, depois de tanta tentativa de conquista, deixa-se desvanecer, como se fosse tudo um cubo de gelo ao sol.
Falei delas. E eu? Eu continuo a injectar-me diariamente com doses de realidade e crueza com uma pequena percentagem de crença honesta no amor. Também atirei uma flor ao ar, mas não para me apaixonar. Não tenho mensagens de bom dia nem de boa noite, não estou tão feliz nesse campo como a minha amiga mais feliz (ou uma das), não tenho nenhuma relação e não sou casmurra como a outra. Não estou vazia, não estou infeliz. Nem conformada nem inconformada. Não estou deprimida nem depressiva. Só com um olhar diferente sobre as coisas - My name is Pearl and I love[d] you the best way I know how.