sábado, 30 de outubro de 2010

É (também) por isto que R. Barthes me mata por dentro

VAGABUNDAGEM. Ainda que todo o amor seja vivido como único e que o sujeito rejeite a ideia de mais tarde o repetir, o apaixonado surpreende por vezes em si uma espécie de difusão do desejo de amor; compreende então que está condenado a errar até à morte, de amor em amor.
1. Como acaba um amor? - O quê, então ele acaba? Em suma, ninguém - a não ser os outros - sabe disso; uma espécie de inocência mascara o termo desta coisa concedida, afirmada, vivida segundo a eternidade. Suceda o que suceder ao objecto amado - quer desapareça quer passe ao mundo da Amizade - , nunca o vejo desvancer-se: o amor que acaba afasta-se para um outro mundo, à maneira de uma nave espacial que deixa de cintilar: o ser amado ecoava como uma vozearia, ei-lo subitamente inaudível (o outro nunca desaparece quando e como se espera).


Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso (p.252)

1 comentário:

Logan disse...

e deixares de ler essas coisas rapariga? o homem pode matar- te mas não és assim tão má pessoa que a gente te queira ver na cova nos próximos tempos!