A semana passada fui ao cinema, coisa que já não fazia há muito tempo. Desta vez experimentei ir sozinha e gostei. Há sempre quem diga que pra ir aos movies é com companhia; não me fez diferença. Fui ver "Married Lifes" (em português "Casamentos e Infidelidades") e gostei bastante. Muito sucintamente, até para não estragar as expectativas de quem pretende ver o filme, a história concentra-se em 4 personagens: Harry, Pat, Kay e Richard. Após anos de casamento com Pat, Harry apaixona-se por Kay e confessa-o ao seu amigo Richard. Como não tem coragem de acabar com o casamento e fazer sofrer a mulher, Harry planeia matá-la para poder livremente viver a sua paixão com Kay. Enquanto este se ocupa dos detalhes do homicídio, Richard encanta-se com Kay e decide conquistá-la. Num drama tenso e intenso, o filme transporta-nos para uma panóplia de relações e ligações entre as personagens, levando-nos a questionar o que é, de facto, uma "married life". É um drama que levanta questões no que concerne a fidelidade, o tempo das relações, a forma como agimos perante o outro e perante nós próprios. Escolhi-o ao acaso e foi uma agradável surpresa!
Por outro lado, ontem à noite fui ao CACE Cultural ver a peça (A)tentados, de Martin Crimp, encenação de João Melo e com a representação dos meus colegas e amigos de Faculdade, que fazem parte do grupo teatral Máscara Solta. Gostei bastante não só da interpretação de todos eles como também do texto. É efectivamente uma peça de teatro que prende o espectador. Gira à volta da vida de uma personagem que nunca está presente (à semelhança da peça de B. Brecht À espera de Godot). Como está num post no blog do grupo,
"Anne pode ser Any(one), a rapariga da porta ao lado, como sugere o título de um das cenas, pode ser vista como terrorista, artista de vanguarda, mãe, filha, artista porno ou mesmo um carro de alta performance. Ela é-nos descrita por um coro de vozes por sua vez anónimas, sem identidade que através dos sucessivos relatos da vida de Anne, contraditórios ou incoerentes, acabam por estilhaçar, como refere o tradutor, a própria identidade de Anne. Fica a ideia de que a identidade é algo que nos é imposto pelo exterior.
Este texto traz em si uma proposta e uma procura de uma renovação do discurso teatral não só pela ausência de personagens em palco ou de enredo, mas também pela diversidade de cenários e de informações díspares. Há uma ausência de certezas, um despejar de informações que se quer apelativo que nos remete ao discurso dos “media” dos dias de hoje. Há uma porta para um vazio onde só pode sobreviver o jogo teatral – “Não é só representação, é algo com mais exactidão” – (cena 5 – A câmara ama-te). E nesse vazio, cria-se um espaço de criação, de imaginação para o grupo que se propõe a fazê-lo, assim como à leitura do público."
Adorei. E eles brilharam. E eu também me lembrei de quando fazia teatro... O bichinho ainda cá está seja para ver, representar ou escrever!
1 comentário:
:)
Ainda só consigo sorrir. A nossa estreia foi muito boa e tivemos uma público excelente!
E a peça, sim, é das melhores com que já lidei.
Obrigada. :)
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