sábado, 27 de junho de 2009

Madame Bovary, de Gustave Flaubert e O Primo Basílio, de Eça de Queirós

Envolvente. Impossível parar de ler. Emma com o viúvo Charles Bovary, um médico da província. A vida de ambos não é feliz, pelo menos pra ela. Charles faz tudo para agradar à esposa, mas esta mostra-se sempre insatisfeita, quer viver num ambiente de luxo e ostentação. Madame Bovary trai o marido; procura a paixão, algo que a faça renascer, emocionar. Contudo, tudo termina com a sua morte, a descoberta da traição, a morte do próprio Charles e a desgraça da filha de ambos, Berthe. Ler este romance foi uma experiência agradável, mas senti algo que nunca havia sentido por uma personagem: Emma, a Madame Bovary, é uma mulher que me irrita profundamente. Chegou uma altura em que só me apetecia abanar aquela mulher tão iludida com príncipes encantados e uma vida sem complicações e feliz. É, indubitavelmente, uma contradição. Queria sorver as palavras todas e chegar ao fim da obra para saber o que iria acontecer àquela mulher que se embrulhava nas suas próprias mentiras para não ser descoberta e, simultaneamente, detestava-a devido à sua atitude e maneira de encarar as coisas.


Por outro lado, li também O Primo Basílio, de Eça de Queirós, e, apesar de também na obra se contar a história de uma traição, por Luísa senti solidariedade, pena até. Contudo também ela mentia, enganava o marido fiel e dedicado. Pobre mulher ameaçada por uma criada oportunista e falsa que se apoderou das cartas e bilhetes trocados entre os amantes para chantagear a sua senhora! Talvez Luísa fosse mais pura do que Emma, talvez fosse uma mulher menos atormentada, ainda que as duas tenham perseguido uma paixão. A diferença está no facto de o romance de Luísa e do seu primo ter começado na adolescência e ter algumas raízes ao contrário do de Emma e dos seus amantes; a semelhança entre as duas personagens consiste na descoberta da traição e na morte. Para além da intriga principal, é delicioso ler as discussões intermináveis de Julião com diversas personagens da burguesia; é ainda melhor ler as conversas entre as figuras femininas, retratando a sociedade da época e, ao mesmo tempo, focando temas intemporais.


É sempre um prazer ler Eça!



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